Leitura: The War On Women, Sue Loyd-Roberts

março 21, 2017 Helô Righetto 1 Comentários


Sue Lloyd-Roberts morreu logo após terminar de escrever esse livro. Quer dizer, o último capítulo ficou incompleto e quem o terminou foi sua filha. Claro que a morte de qualquer pessoa é motivo para tristeza e lamentação, mas olha, pouca gente deixa um legado tão valioso quanto essa jornalista. Então pra mim, talvez seja fácil falar pois meu único vínculo com ela é o de escritora/leitora, fica algo de positivo: tudo que ela produziu em seus anos de jornalista investigativa, o que acabou culminando nesse livro maravilhoso, que nunca vai sair da minha prateleira.

Sue trabalhou por muitos anos na BBC e visitou regiões remotas e inóspitas, foi pra lugares onde repórteres e cinegrafistas não são bem vindos, peitou autoridades, conversou com vítimas e com criminosos. E, em todos esses lugares, ela notou uma coisa: que as mulheres eram constantemente mais prejudicadas. Por isso o título desse livro: war on women. Mulheres do mundo todo estão em guerra, há décadas (talvez séculos), contra a opressão misógina e patriarcal. E cada capítulo desse livro é dedicado a uma batalha. Um tipo de horror vivido por mulheres em determinadas regiões do mundo.

Não é um livro fácil, não no sentido da narrativa (que é maravilhosa, didática e dinâmica), mas no sentido dos socos no estômago que o leitor leva o tempo todo. O livro já começa com um capítulo falando sobre mutilação genital, aí passa para as avós da Praça de Maio em Buenos Aires que buscam seus netos desparecidos durante a ditadura, vai pra Irlanda contar a história das mulheres que trabalhavam como escravas em lavanderias mantidas por conventos católicos, depois muda pra Índia e Arábia Saudita - dois dos piores países para ser mulher hoje em dia -, e pra finalizar dá uma passadinha nos países do leste europeu pra falar de tráfico de mulheres, que são torturadas e obrigadas a se prostituírem para atender... preparem-se: homens em missão de pacificação da ONU.

Como eu falei no Instagram, leiam esse livro. Agora. E da próxima vez que alguém perguntar por que as mulheres feministas são bravas, você terá - infelizmente - muitas respostas.

Read this book. I urge you. And next time someone tells you that women are too angry, or that women shouldn't complain so much because things are better now, you will tell them about the gender war that is going on for decades. Centuries. You will tell them about the women that have their vaginas mutilated in Egypt and Gambia, the women who were forced to work in laundries managed by Catholic nuns in Ireland, the women who were killed in Argentina after their babies were born and the women that are fighting to find those babies. You will tell them about "honour killings" in Jordan and Pakistan and about women who are marginalised in Saudi Arabia because they don't have a male guardian. You will tell them about women that are raped because they "dare" to be in a public space, about young girls forced to marry men old enough to be their fathers and about women in Bosnia that are sex slaves. You will tell them about how women in the UK still earn less than men. Sue Lloyd-Roberts, a woman I aspire to be, left us too soon (shortly after writing this book), but this book and all her investigative films are a great legacy. Thank you, Sue. #heloreads

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